CRUZANDO O SAARA

Saara Ocidental, Mauritânia

Texto & Fotos: Robert Ager & Grace Downey

Uma das maiores emoções de viajar deste jeito é que, às vezes, nos damos conta de que temos de enfrentar o desconhecido. Pode ser um novo país, uma cultura diferente ou um lugar muito remoto, sempre sem o conforto de amigos, parentes e coisas familiares. Não podemos simplesmente parar e voltar para casa. É nessa hora que a verdadeira aventura começa. Não poderíamos ter comprovado esse fato melhor do que agora, quando enfrentamos nosso maior desafio até então: o Saara!

Maior que o Brasil, o Saara se estende através de dez países, desde o mar Vermelho até o oceano Atlântico, tornando-o de longe o maior deserto da Terra. Atualmente, devido às instabilidades políticas, disputas intermináveis e guerras civis, só existe uma rota aberta para atravessar esta enorme área selvagem. Beirando a costa atlântica, o caminho começa em Nouadhibou, no Saara Ocidental, antes de seguir sua sinuosa rota ao sul, por 500 quilômetros de barro, areia e dunas, até Nouakchott, na Mauritânia.

Fomos avisados de que, para ter mais segurança na travessia, deveríamos contratar um guia local ou usar GPS, se não ambos! Pensando nisso, decidimos atravessá-lo junto com o Rob e a Natascha, um casal holandês que encontramos em Agadir e que também viajava em um Land Rover.

Em Dakhla, à beira do deserto, descobrimos Gerbert. Este outro holandês dirigia uma Mercedes sedan que ele iria vender do outro lado. Isso é bastante comum nesta região e vimos vários comerciantes procurando formar comboios com o mesmo objetivo. Gerbert já havia feito a travessia nove vezes, possuía mapas bem detalhados e uma lista impressionante de coordenadas para o GPS. Ele se ofereceu para nos guiar na travessia em troca da segurança de viajar em um pequeno grupo. Nossa equipe estava completa!

Antes de sairmos da última estrada, enchemos os tanques. Tínhamos 150 litros e autonomia para mais de 1.200 quilômetros no asfalto. Teríamos de percorrer bem menos que isso, porém também sabíamos que, dependendo das condições da areia, o consumo poderia até dobrar. Também baixamos a pressão dos pneus para aumentar a superfície em contato com a areia, o que teoricamente diminui a chance de afundar!

O primeiro obstáculo foi a fronteira entre o Saara Ocidental e a Mauritânia. Devido às hostilidades e guerras nos últimos 20 anos, os postos de fronteira são remotos e intensamente minados. Encontramos destroços antigos de uma Land Rover minada, um forte aviso para que não saíssemos da trilha!

Dormimos na fronteira e bem cedo deixamos para trás qualquer vestígio de estrada, procurando seguir o caminho certo. Dependíamos exclusivamente do GPS e, mesmo assim, nos perdemos várias vezes. Com os ventos fortes, a cada ano as dunas se movem, e freqüentemente reaparecem bem no meio do que seria o caminho correto.

Teoricamente, há balizas (marcos deixados pelos franceses na época da colonização) a cada quilômetro para sinalizar que se está na rota certa. Infelizmente, elas têm o hábito desagradável de desaparecer quando mais se precisa delas!

Como três “formiguinhas”, seguimos um ao outro por aquela imensidão de areia. A única companhia era a de um eventual camelo. Apesar de alguns momentos mais tensos e de termos de desatolar a Mercedes da areia algumas vezes, sobrevivemos ao dia e paramos para acampar entre duas lindas dunas solitárias. Quando o sol baixou, sentimos a força do vento aumentar e logo havia areia voando para todo lado.

Posicionamos as duas Land Rovers juntas para formar um quebra-vento e conseguirmos sentar para jantar. Apesar de o deserto ser extremamente quente durante o dia, à noite a temperatura cai bastante e fica muito frio.

Para nossa sorte, o Gerbert havia aprendido alguns detalhes nas travessias anteriores e tinha trazido lenha e uma bela garrafa de vinho. Sozinhos, no meio do deserto e com alto-astral, ficamos conversando ao redor da fogueira até de madrugada.

As coisas foram um pouco mais complicadas no dia seguinte. Partimos cedo e não demorou muito para percebermos que havíamos nos perdido. Estávamos longe da trilha e muito perto da praia.

Começamos a perceber o ruído do motor sendo forçado à medida que a areia ficava mais solta e funda. Nosso carro de 3 toneladas estava em apuros! De repente, com um grunhido, o carro parou e estávamos atolados até os eixos. Olhando para trás, vimos o Land Rover holandês, muito mais pesado, exatamente na mesma situação. Ironicamente, a Mercedes, sendo muito mais leve, passou em alta velocidade patinando, e chegou sem problemas em terra firme.

A temperatura estava sufocante, com um sol a pino ardente sem nenhum sinal de sombra. Mesmo assim, tivemos de desencalhar os dois carros. Durante as horas seguintes, aprendemos “na raça” algumas lições do deserto.

Depois de cavar muito e inutilmente, chegamos à conclusão de que o certo seria levantar o carro com o nosso hi-lift jack (um macaco especial mais alto que o normal), encher o buraco e posicionar os sand tracks (as esteiras de metal).

Só nesse momento abaixaríamos o carro para então sairmos do atoleiro. Assim, prosseguimos em ritmo de lesma. Quando já estávamos começando a duvidar do processo, o carro encontrou tração e acelerou até terra firme.

Estávamos exaustos, mas aliviados!

Agora tínhamos pela frente o notório percurso das dunas. Neste trajeto, seguiríamos individualmente e somente nos reencontraríamos do outro lado. Mesmo num 4×4, a pior coisa a fazer quando se está sobre areia fofa é parar para esperar alguém. Você simplesmente atola!

Com muita adrenalina e o coração na mão, os 20 minutos seguintes foram tensos, enquanto enfrentávamos as dunas. Às vezes, podíamos sentir as rodas patinarem, mas torcíamos para que um terreno mais firme chegasse logo. Por sorte, desta vez ninguém atolou e nos encontramos após a última duna. Estávamos quase lá!

Havíamos ouvido falar de uma estrada nova em construção situada mais para o leste, mas não sabíamos exatamente onde ficava. Novamente o caminho era sobre areia fofa e cada qual seguiria o seu próprio ritmo. Em pouco tempo, nos perdemos de vista e mesmo com o GPS confirmando que estávamos na direção certa, começamos a pensar que havíamos errado. Nessa hora bateu um desespero, pois nos demos conta de que poderíamos estar perdidos e sozinhos.

Parados em cima de um morrinho, subimos no teto do carro e com binóculos procuramos os outros no horizonte, mas não vimos nada! Decidimos esperar um pouco, mas ficamos bem preocupados. A sensação de estarmos sós e abandonados não era nada agradável e a tensão só aumentava. Após alguns minutos, que pareceram horas, avistamos uma poeira bem ao longe, e para nosso alívio eram o Rob e a Natascha.

Depois de um breve e feliz encontro, decidimos seguir em frente por mais meia hora. Pelo menos estaríamos perdidos juntos! Quando chegamos à estrada, literalmente beijamos o asfalto e pulamos de alegria. Mesmo sujos, fedidos e com areia em todo lugar, nos abraçamos e comemoramos.

Conseguimos! Atravessamos o Deserto do Saara!

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